sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Paulo Rios Filho --
nav tirs nekadus hibridus nº 2

Camará - Conjunto de Câmara da UFBA | Projeto "Música Baiana?
Teatro Eva Herz, Salvador -- 16/12/11
 [video: emilio le roux | audio: alexandre espinheira]


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A primeira coisa que você deve estar se perguntando é: “que diabos de título é esse?” Certamente a intenção do compositor com esse título não era comunicar algo, como quem dá um “bom dia” ou manda o filho ir comprar pão. Mas de qualquer maneira, o seu nome pode ficar pra depois.

Antes, vamos falar um pouco sobre a própria música.

Para compor nav tirs nº 2, Paulo Rios Filho elegeu dois conjuntos de notas musicais como seu material básico e aplicou alguns procedimentos de derivação sobre eles.

De um lado, uma entidade musical familiar (a escala dórica) segue um caminho de autotransformação, numa viagem em direção à sua própria figura deformada – quando deixa de parecer familiar. Do outro, uma entidade musical da natureza (a série harmônica) se artificializa à medida que se aproxima de um ponto no futuro (e vira uma escala de tons inteiros).

Mas, no fim do trabalho do pedreiro, o material não importa tanto quanto a própria casa, que é a forma da maneira como ela é percebida.

Como você percebe essa música? Que imagens ela traz à sua cabeça?

nav tirs nekadus hibridus nº 2 é, segundo o compositor, o convívio de duas viagens paralelas, que se cruzam e se distanciam, em seus diversos momentos.

Essa é uma história cheia de intempéries; afinal são dois roteiros (que já carregam sub-roteiros dentro de si) com itinerários diferentes tendo que conviver dentro do mesmo mundo. É porrada pra lá, quebradeira pra cá, um grito aqui, um tapa acolá. No meio do caminho, porém, calha-nos deparar com paisagens repletas de lirismo. Percebam como no meio da música o clima geral da história muda de face. A porção inicial e a final, por sua vez, guardam semelhanças entre si.

O nome da música quer dizer “nem puro, nem híbrido” em letão. O título tem a ver com a “modificação genética” sofrida tanto pela escala dórica quanto pela série harmônica de dó.

Mas será que já não eram elas próprias frutos de outras modificações?


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"Neither pure nor hybrid." This is what the piece's title means in Latvian. The work is about imagining an anti-world, where things are not things, and about the perception of a trip or path taken by those who are natives and creators of this world, at the same time.

Firstly, a familiar musical entity (the Dorian scale) goes on a path of self-transformation, within a trip to your own deformed picture -- when it is not anymore familiar. 

On the other hand, a nature's musical entity (the harmonic series) denaturalizes itself while it gets close to a point in the future, and becomes a whole-tone scale. Both characters travel in the same direction, one of transformation, and their paths get mixed, interlaced, mopped and rubbed to each other (they caress themselves as well).

Listen to it, once this other world can be only listened to. The images they are by your own account.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Vinícius Amaro --
Gigitanas Nº 0,5 (Frenesia)

Camará - Conjunto de Câmara da UFBA | Projeto "Música Baiana?
Teatro Eva Herz, Salvador -- 16/12/11 | Vitor Rios (bandolim)


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Gigitanas é uma espécie de estudo para bandolim. Ou seja: é uma música que além de poder ser apreciada normalmente (da parte do público), pode ser apreciada ainda somente do ponto de vista da técnica de performance do instrumento (principalmente, claro, da parte do instrumentista).

Segundo o compositor, as sonoridades dessa música são todas costuradas "por um esquema cromático de condução de vozes" -- o que, traduzindo para o mundo normal, quer dizer que cada nota se movimenta quase sempre para a nota mais próxima, de semitom em semitom.

Qual a sensação que esse costurado lhe causa? 

A intenção de Vinícius era, através de uma construção métrica que tende sempre a ser desconstruída, evocar "um estado de ansiedade típico da personalidade de boa parte dos homens urbanos."

Mas a expectativa que a ideia do compositor causa não precisa ser satisfeita. Você pode apertar o play, concentrar-se, e descobrir outros mundos e outras ideias que nem ele imagina.

No entanto, uma coisa é certa: a composição, assim como se tivesse vida própria, "brinca com ritmos do arrocha baiano e com uma pequena ideia melódica da música 'Time And Motion' da banda canadense de rock progressivo Rush," revela Vinícius.

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Gigitanas is a kind of study for solo mandolim. Accordingly to its composer, the work's sonorities are all sewn through a chromatic voice-leading scheme.

What is brought up to you from this sewing sounds?

Vinícius' first intentions were to evocate, through the creation of a metric which tends hardly to be deconstructed, "a state of anxiety typical of the urban men's personality."

Nonetheless, to satisfy an expectation caused by the composer's intention is not mandatory. You can just press play, get to concentrate, and discover other worlds and ideas (ones that not even the composer had figured out).

Overall, one thing is certain: the piece, as a living creature, "plays with rhythms from Bahia's arrocha as well as with a little melodic idea from Rush's song 'Time And Motion,'" Vinícius says.

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